A Pandemia e o Teletrabalho

A pandemia que continuamos a vivenciar, para além dos naturais impactos na saúde pública e na economia, está a revelar-se também como um momento disruptivo da vida em sociedade.

Se, no caso da gripe espanhola, a grande epidemia do século passado, a transformação consistiu na generalização dos cuidados de saúde para todos os cidadãos, a covid-19 tem introduzido a discussão sobre o teletrabalho e, lateralmente, o ensino a distância. Refira- se que nenhuma destas questões é nova.

O que agora se discute é a sua (rápida) generalização sempre que viável para as funções exercidas. Não tenho dúvidas de que as experiências, forçadas, dos últimos meses mostraram as possibilidades que o teletrabalho e o ensino a distância apresentam, levando à sua adoção generalizada, mesmo por pessoas que nunca pensaram (ou admitiram) recorrer a essa possibilidade.

No entanto, creio que, em muitos contextos, se passou do oito para o oitenta. Se as vantagens que o teletrabalho apresenta são óbvias, ainda estamos muito longe de compreender todos os seus impactos, quer no que se refere à construção das relações sociais quer aos impactos na inovação. Se, no imediato, a produtividade pode aumentar, importa equacionar se se manterão estímulos à criatividade, potenciados pela interação no ambiente de trabalho, ou se, pelo contrário, se tenderá a entrar numa rotina sem estímulos para novas soluções.

O mesmo se passa no ensino a distância. Não novo, tem óbvias vantagens em circunstâncias concretas, mas, quando generalizado, apresenta algumas limitações que não se podem ignorar. Desde logo a menorização da interação entre os professores e os estudantes e entre estes, fundamentais para o trabalho colaborativo e para a capacidade de os tornar atores interventivos na sociedade, não se restringindo a uma atividade profissional.

Mas também questões relacionadas com o potencial acentuar das desigualdades sociais, ao fechar, cada vez mais, os estudantes exclusivamente no seu contexto familiar e social.

É importante avançar com passos sólidos, avaliando as consequências de cada um antes de passar ao seguinte.